Brasuca explica por que Leiria jogou com oito: 'Cansamos de promessas'

Bruno Moraes, ex-jogador do Santos, faz parte do grupo de jogadores que rescindiu contrato com equipe por quatro meses de salários atrasados O União de Leiria protagonizou um jogo histórico com o Feirense, no domingo, ao entrar em campo com apenas oito jogadores. Tudo por conta de uma rescisão coletiva de contrato feita por 16 jogadores do elenco às vésperas da partida. Revoltados com o atraso dos salários em quatro meses, a maioria dos atletas entrou com recurso no sindicato e conseguiu liberar-se do vínculo com o clube, que ficou sem atletas para atuar nas últimas rodadas do Campeonato Português. O brasileiro Bruno Moraes, ex-jogador do Santos, faz parte do grupo que decidiu desvincular-se do clube por conta da falta de pagamento. E em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o atacante deixou claro que não havia mais escolha para os membros do elenco. - Já vínhamos com muitos problemas e estávamos tentando resolver, mas não teve solução. Então, os jogadores procuraram o sindicato e decidimos rescindir o contrato. Estamos desde dezembro tentando resolver e o clube vem nos enrolando. Cansamos de ouvir as promessas do presidente – declarou o jogador. Lanterna do Campeonato Português e praticamente rebaixado, o União de Leiria passa por graves dificuldades financeiras, assim como diversas equipes do futebol lusitano. No entanto, o brasuca acredita que o único motivo para a crise no clube não é apenas o mau momento econômico europeu, mas também a má administração. - O clube poderia estar melhor. Lamento, porque quando vim para cá achei que era um clube organizado, que tinha tudo para crescer. Mas as coisas só foram piorando. A crise afeta quase todos os clubes aqui em Portugal, mas há algo esquisito no Leiria. O clube não tem patrimônio registrado em seu nome, nem estádio, nem nada. Tem gente que diz que até o ônibus é penhorado. De acordo com Bruno, o clima dentro do clube já é pesado há algum tempo. Alguns jogadores estão sem receber desde novembro de 2011, enquanto outros não têm salário depositado desde dezembro. Por isso, a rotina de trabalho já não era executada com tranqüilidade. - A gente tentou resolver tudo de várias formas, mas o ambiente no clube já é de abandono. Eles falavam e não resolviam os problemas. Não tinha mais ambiente para trabalhar. Já tinha alguns jogadores com dificuldades de transporte e até de alimentação. Alguns precisavam pedir dinheiro emprestado. Dos oito atletas que foram a campo contra o Feirense, que acabou vencendo o jogo por 4 a 0, quatro tinham vínculo de empréstimo, dois eram juniores e outros dois (Alhafith e Ogu) chegaram a rescindir o contrato com o clube, mas voltaram atrás. A direção do Leiria convocou os atletas para se apresentarem à partida e um atleta teria tirado proveito da situação para aplicar uma “vingança”. Malinês é acusado de fugir com dinheiro O presidente do clube, João Bartolomeu, acusou o meia Keita de ter fugido do estádio com o dinheiro destinado a pagar as despesas da partida. O jogador de Mali – que faz parte do grupo dos que rescindiram vínculo com o clube - chegou a ser inscrito para o jogo e teria, inclusive, vestido o uniforme. No entanto, desistiu e não foi a campo. - O Keita fugiu com uma mala com seis mil euros. Isto é um caso de polícia! – declarou Bartolomeu. O mandatário também ironizou as reclamações dos jogadores que não se apresentaram para o jogo. - Se há três meses não recebem, como foram almoçar em um restaurante onde eu não vou por ser muito caro? – disparou. Bruno Moraes confirmou que a direção fez apelo aos atletas para que comparecessem ao jogo, mas disse que, mesmo que desejassem, não poderiam atuar justamente por conta da rescisão. - O Leiria seria rebaixado direto para a última divisão portuguesa caso não jogasse hoje. Então, eles queriam que fôssemos ao estádio. Mas nós não podíamos jogar porque o sindicato rescindiu nosso contrato. Inclusive, os jogadores que estão sem contrato e jogaram podem ter problemas e o clube pode ser multado, pois eles não têm mais vínculo. Fora do turbilhão em que o Leiria está envolvido, o atacante agora já começa a traçar os planos para seu futuro. Depois de marcar sete gols na temporada, Bruno começa a pensar em seu próximo clube e não despreza a chance de voltar a sua terra. - Agora não tenho mais obrigação com o clube e vou esperar propostas. Já estou conversando com meu empresário e ainda vamos ver. Eu tenho saudades do Brasil, então vamos ver se chega alguma coisa de lá – disse o jogador, que jogou no Porto durante cinco temporadas.